5.12.07

paranóia fashion clean


Com exceção das manifestações milenares, a forma magra na moda surgiu com o Art Noveau (movimento artístico europeu, déc. 20), mais tarde a Arte Deco, também no Brasil. Na primeira, formas que lembram o chicote de fumaça de cigarros, as curvas de uma trepadeira com florões de portões de ferro, formas finas e sensuais do design dos besouros, louva-deuses e borboletas. A postura para a moda de vestuário exigiu cada vez mais o antebraço fino (magro) da forma feminina. Junto com a cintura, já tradicionalmente contemplada como fina, e o pescoço (longo) formava a figura da nova estética ou Arte Nova na sua essência e forma feminina alongada. Do início do século XX em diante, a mulher foi abandonando volumes barrocos, ou românticos de mais, como armações, espartilhos, meias e sutiãs, calcinhas e sobrancelhas ou até mesmo suas próprias dimensões. Cinturas de Dior ou troncos e pernas longas das mulheres-peixe de Versarce. Fendas nos vestidos, partes do corpo de fora compondo com o tecido e com o corte. Praticidades "modernas" com trajes que acompanharam as "exigências do mercado", utilitários e... o Jeans! Tudo passou a ficar cada vez mais insólito, vazio ou limpo, bem limpo. Luz de shopping, infravermelhos, precisão a laser, a assepsia, o "bota fora" para o clean, somente o necessário e, de preferência embutido. Saiem os babados, as rendas demoradas, as meias de lã, e entram as camisetas de malha, símbolo fabril do séc. XX. Se a menina tem os braços magros, consegue com mais facilidade, se assim podemos dizer, posar para um perfil reto, elegante, como nos desenhos de moda ou manequins de vitrine (linhas paralelas no desenho do braço, quase sem curvas). É preciso ter "desconfiômetro" para não desperdiçar energia nem saúde. Vale para as "meninas modelos" (meninas mesmo), que só por ter um ou outro atributo físico explorável comercialmente, não percebem que poderiam brilhar muito mais em outras atividades. Se a profissão de modelo exige que eu esteja "belíssima" sempre, ou eu tenho que ter nascido "belíssima" ou ficar "belíssima" com facilidade e sem sofrimento. Se quando eu relaxo de vez em quando, engordo horrores, pra quê que eu quero ser modelo? Se me chateia fazer regime, ou ginástica, ou qualquer sacrifício para estar "na moda", tenho que procurar outra qualificação. Talvez um call center, por telefone ninguém vai ver (brincadeirinha...)! Várias modelos e bem sucedidas profissionais são magras, sempre foram magras e não fazem esforço nenhum pra tanto. É genética, metabolismo. Com o que Deus nos deu? Vale também paras as mães que chateiam as filhas ou "incentivam as filhotas" para o "bem delas". De certo que as mães também passaram pela pedagogia comercial e televisiva, com o sonho de Scarlat O'hara de nunca mais passar fome. Ou as longas tardes brincando com as bonecas Barbie e seu noivo entre muitas goladas de Toddy. Noivo, casamento, final de novela. "Uma Linda Mulher". A fama, mesmo que por segundos. Melhor seria se o objetivo fosse o sucesso. Castelo não se compra, herda-se. Se a menina não ficar famosa (o que matematicamente é mais provável) o que será dela? Aprendeu esse tempo todo a fazer o quê? Sempre: exageros, melhor evitar. Todos nós servimos para alguma coisa ou várias coisas, e nem todas as coisas servem pra gente.

Uma vez um professor contou-me sobre o movimento do artista no desenho, que seria controlado ao mesmo tempo descontrolado. Como pegar um punhado de areia: se jogar tudo no chão de uma vez não é nada (ou pelo menos um Pollok), e se colocar cheio de zelo também não seria nada (o tal do clean, a Minimal Art, a Arte Concreta e suas derivações). O ideal seria colocar a areia com jeito próprio (caligrafia) deixando alguns grãos escaparem ao acaso. Uma imitação perfeita do curso da vida. Mas será que as artes devem imitar sempre a vida? Ou pelo menos as passarelas de moda devem ser reflexos do nosso cotidiano, com pessoas andando com roupas novas e não manequins profissionais (as atrizes protagonistas) desfilando Moda de Vestuário?

A massificação do séc. XX, mais tarde a globalização (através de ídolos internacionais, personalidades populares...) levava a crer que a melhor saída era ser "Maria vai com as outras" (quantas vezes vimos uma enxurrada de gente com os mesmos trajes: "meião", sainha pregueada xadrez, roupa rosa, sapatilha plástica de bico fino, bota Peter Pan, anorexia... mas, hoje no séc. XXI, a escolha do próprio estilo ou a personalização (a aceitação do próprio biótipo) da nossa imagem não precisa mais ser padrão. Já que na moda (grifes) temos um mundo artístico específico e a parte, as passarelas devem continuar com as formas magras e saudáveis. Mas nós, meros mortais, só precisamos cuidar da saúde. Nesse ponto todos concordam: hoje, boa aparência é estampa saudável, seja ela magrinha, rechonchuda, alta, baixa, de qualquer cor ou de quaisquer traços, e... com cheirinho de banho tomado.

Um comentário:

  1. Anônimo12.1.08

    gostei muito do texto e levei pra galera da agência, claro que sem a foto/ bafão... rss BJO - DRICA

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