Ainda dizem que foi melhor que “Cidade de Deus”! “Cidade de Deus” é cheio de surpresas, contradições, segredos, até o “desvendar”... Já “Tropa de Elite” parece-me mais um documentário, ou algo semelhante ao seriado Oz, bem feito no sentido de verossimilhanças com uma realidade turva, porém pobre até no tratamento cinematográfico, no sentido de gráfico mesmo. Compare então as duas fotografias, dos dois filmes. Depois, a quantidade de personagens em cada filme. A riqueza de universos e tensões, além do grande trabalho dos atores e diretores. A quantidade de conflitos de roteiro resolvidos. A caracterização com a época (em “Cidade de Deus” parecia que estava vendo aquelas fotos desbotadas dos anos 70 e 80, arredondadas nos cantos, diretamente daquelas lunetinhas de plástico colorido que víamos contra a luz, aqui em movimento) e até a música e o som, foram mais “potentes” nas bandas de “Zé Pequeno”. O palavrão não era gratuita ou simples explosão de gula, era intrínseco ao personagem, bem dito por eles e de boca cheia. Mas afinal, ou no final a polícia sai como a grande e truculenta vilã: sustentada e promovida pelo crime, corrupta, assassina e ladra. Bem diferente do final de “Tropa de Elite” com os oficias subindo as escadarias dos céus como arcanjos e culpando a outra elite, os ricos e seus filhinhos de “patrocinarem o tráfico”.
É bem coisa de covarde culpar o primeiro que vê pela frente. Posso culpar a criminalização do uso e venda de entorpecentes da mesma coisa: pessoas morrem e são exploradas sem escrúpulos por trabalharem em algo ilegal. Legalize tudo, já que a questão é a corrupção. O uso e a comercialização destas sustâncias tóxicas ou não, deve ser assunto para o Ministério da Saúde, para a ANVISA (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) ou qualquer outro órgão direcionado à saúde e livre de dogmas. A elite só financia a violência com a compra de drogas porque é ilegal. Caso contrário seriam consumidores comuns e, inclusive, protegidos por leis do capitalismo (do consumidor). A lei já é bem clara: somos responsáveis pelos nossos atos (maioridade) mesmo sem a intenção de fazer o mal. Alguém que atropela acidentalmente um outro é culpado e julgado por tentativa de assassinato. Se o outro morrer com o acidente, é assassinato culposo. Então qual a diferença se o indivíduo estava alucinado ou não? Mas a polícia não quer perder postos de fortunas conquistados com a banalização da violência. Já percebeu a quantidade de escolas de segurança, empresas destinadas à blindagem, segurança eletrônica, isso fora o escoamento de verba pública pelo trânsito lento da burocracia criminal. Os “federais” não liberam nem o que apreendem... passam a mão em tudo ou deixa apodrecer nos depósitos (enquanto crianças estudam no chão). Desculpem-me o desabafo mas não gostei de compararem o filminho equivocado (com todo o respeito aos artistas envolvidos) “Tropa de Elite” (que, cá pra nós, tem título de filmão) com o melhor filme nacional feito na atualidade, “Cidade de Deus”. Esse sim, dá “pano pra manga”. E a mulecada, farrapa de cultura e crítica, segue os trejeitos, falas e palavrões como num hit do momento, e ainda assim prefiro: “Dadinho é o caralho, meu nome agora é Zé Pequeno, pôrra!”. Pior será se todo policial cismar em agir como a seita BOPE, subestimando a realidade e confirmando a Guerra Eterna. E falar como os bandidos já é fato entre os fardados.
O mundo não poderá mais ser dividido entre o bem e o mal. Teremos que assimilar muito mais do que essa lógica, de preferência abandoná-la, para que tenhamos uma visão menos turva e mais inteligente na valorização das diferenças.
Vale a pena também conferir o filme "Rádio Favela - Uma onda no ar", de Helvécio Raton.O filme conta a a histório do idealizador Jorge e suas dificuldades (principalmente com a elite, os manda-chuvas da comunicação e , consequentemente com os policiais) para criar uma rádio e ter alternativa de ouvir "coisas de verdade". "...eles gastam muito dinheiro com armas mas não investem na mesma proporção na educação dos condutores dessas armas..." No meio disso tudo, bola dentro para a caracterização (anos 70 e 80) e para o texto e roteiro que nos fazem refletir muito mais sobre a sociedade que outros filmes (bem mais caros) por aí...
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